Estudo mostra que o conteúdo por trás de hashtags populares como a #Fitspiration até pode inspirar, mas também tem causado gatilhos incômodos

As redes sociais nem sempre são o melhor lugar para se informar sobre uma vida saudável — Foto: Andrea Piacquadio para Pexels
Se colocar seu corpo em movimento com maior frequência e melhorar a alimentação estão entre suas metas de ano-novo, parabéns! É difícil encontrar uma mudança de hábito que leve a tantos benefícios à saúde quanto o exercício regular e uma dieta equilibrada. Mas como decidir qual estratégia é a melhor para você?
Um caminho é buscar conselhos de um especialista na área, como um amigo personal trainer ou um nutricionista; há quem prefira maratonar canais de estilo de vida saudável no Youtube ou aqueles que já partem pra ação e se matriculam na academia.
Mas há muitas pessoas optando por outra via: simplesmente deslizar o dedo na tela do celular enquanto assistem às postagens de influenciadores fitness nas redes sociais.
“As mulheres nunca disseram se sentir tão impactadas pelo o que veem no Instagram e no TikTok como agora. E não são apenas as da nova geração: pacientes de gerações anteriores completamente imersas nesse mundo também”, diz a psiquiatra Mariana Barros, do Instituto Nutrindo Ideais, de São Paulo.
Se você faz parte desse time, um novo estudo sugere que você deveria repensar a estratégia.
Conteúdo por trás da #Fitspiration
A hashtag #Fitspiration descreve postagens em redes sociais destinadas a inspirar a prática de atividade física e promover hábitos saudáveis. Basta colocá-la na busca de plataformas como Instagram, TikTok e Facebook para se deparar com resultados que beiram, juntos, os 100 milhões.
Geralmente, o conteúdo atrelado a ela são fotos e vídeos com recomendações de exercícios e dieta, mensagens encorajadoras vindas de mulheres atraentes, cujo corpo magro é aparentemente saudável.
E por que apontar um possível problema nessa tendência? Afinal, posts sobre o universo fitness têm efeitos positivos, especialmente quando focados em metas realistas de exercícios em vez de meramente no benefício estético.
No entanto, segundo o estudo conduzido por pesquisadores australianos, há muitos conteúdos na #Fitspiration que demonstraram causar gatilhos negativos nos seguidores, incluindo aumento da insatisfação corporal, diminuição da percepção de atratividade, aceitação da magreza como o ideal de corpo a ser buscado e foco na aparência em vez de função e capacidade.
De acordo com a investigação, ao avaliar a qualidade das últimas 15 postagens das 100 contas mais populares que usam a hashtag #Fitspiration no Instagram, os resultados foram decepcionantes – embora não surpreendentes. O motivo:
– 15% apresentavam pessoas abaixo do peso ou extremamente musculosas;
– 22% continham nudez ou imagens de pessoas se exercitando com roupas não apropriadas para o exercício (como biquíni em plena academia);
– 26% retratavam imagens sexualizadas;
– 41% postavam conteúdo relacionado puramente ao fitness em apenas três ou menos postagens.
Moral da história: quando se trata de informações de saúde e fitness, as redes sociais nem sempre são o melhor lugar para se estar.
“Apesar de ser impossível controlar todos nossos gatilhos, uma estratégia positiva e saudável é deixar de seguir determinados influenciadores caso a pessoa perceba que está tendo algum sofrimento emocional ou criando expectativas irreais”, diz o médico psiquiatra Higor Caldato, especialista em psicoterapias e transtornos alimentares, do Rio de Janeiro.
Influenciadores sem credenciais no assunto (como uma formação acadêmica na área) ou que vendem um produto ou serviço acendem uma luz de alerta.
Lembre-se de que o conteúdo no qual você se inspira para melhorar seu nível fitness não pode apenas parecer atraente. Ele também deve ser bem avaliado quanto à segurança das informações divulgadas e respaldado por evidências sólidas de que realmente pode melhorar sua saúde.
Fonte: Por Marcella Centofanti, em colaboração para revistamarieclaire.globo.com/